João Moreira Salles é um dos maiores documentaristas do mundo e aqui ele nos apresenta um dos maiores pianistas do planeta, o brasileiro Nelson Freire. O filme acompanha o artista desde que ele se revelou um prodígio, ainda menino, no interior de Minas Gerais, na pequena Boa Esperança de Minas, onde nasceu e começou a tocar piano aos três anos de idade. A câmara de Moreira Salles segue viajando pelo tempo e por diferentes lugares nos mostrando o dia-a-dia do pianista em sua casa, nos ensaios, concertos, recitais e nos camarins recepcionando e conversando com seus admiradores. Em um primeiro momento podemos pensar que se trata de um documentário voltado para um tipo de público bem específico, afinal, Nelson Freire não é um artista de música popular. Seu universo é o da música clássica. No entanto, já nos primeiros minutos, o diretor retira qualquer traço “elitista” que pudéssemos supor existir. Antes de mais nada, em Nelson Freire, acompanhamos a trajetória de um homem e esse fator humano é evidente em cada fotograma do filme. Temos aqui duas sensibilidades trabalhando em extrema harmonia: a de Moreira Salles, que como poucos sabe revelar coisas sem ser invasivo ou constrangedor, e a do próprio Freire, um artista tímido e de grande talento e humildade. Sem contar que a trilha sonora, composta por peças de compositores como Bach, Brahms, Chopin, Rachmaninoff, Schumann, Tchaikovsky e Villa Lobos, é das melhores que existe.