Se existe um livro conhecido cujo título foi traduzido literalmente do original e que virou filme, por que será que o distribuidor nacional transformou Almoço Nu em Mistérios e Paixões? Esse é mais um dos casos inexplicáveis que envolve os nomes de alguns filmes lançados no Brasil. O cineasta canadense David Cronenberg adaptou e dirigiu a versão cinematográfica considerada infilmável do livro escrito por William S. Burroughs. Misturando elementos do livro com passagens da vida do próprio escritor, Cronenberg realiza uma obra delirante, em todos os sentidos. Na trama, Bill Lee (Peter Weller), é um escritor fracassado que mata insetos para sobreviver. Prestes a perder o emprego, pois “consome” muito inseticida, uma vez que sua esposa Joan (Judy Davis) se viciou no pó que é o instrumento de trabalho do marido. Para complicar ainda mais as coisas, ela convence Bill a experimentar a substância alucinógena. Cronenberg conseguiu o que parecia impossível. Sua adaptação do romance de Burroughs respeita o material original e o transcende ao apresentar uma situação completamente surreal de maneira convincente e quase natural. Méritos do diretor, um artista habituado a transitar com segurança e criatividade pelo bizarro. Em tempo: em Portugal o filme se chama O Festim Nu.
MISTÉRIOS E PAIXÕES (Naked Lunch – Canadá/Inglaterra/Japão 1991). Direção: David Cronenberg. Elenco: Peter Weller, Judy Davis, Ian Holm, Julian Sands, Roy Scheider, Nicholas Campbell e Michael Zelniker. Duração: 115 minutos. Distribuição: Versátil.