Um dos maiores desafios para um cineasta é transformar em imagens uma obra considerada infilmável. Quando o consagrado diretor de televisão Luiz Fernando Carvalho anunciou que estrearia no cinema com a adaptação do livro Lavoura Arcaica, de Raduan Nassar, o comentário foi um só: o cara pirou! Carvalho, apesar de ser “cria” da telinha, sempre teve uma visão puramente cinematográfica. Financiado pelos irmãos João e Walter Salles, da VideoFilmes, a produção teve início em 1998. Carvalho não tinha ainda o roteiro pronto. Disposto a manter-se o mais fiel possível ao texto original, ele se mudou com o elenco do filme para uma fazenda, onde permaneceram por quatro meses fazendo leituras e improvisações a partir do livro. Somos apresentados a uma família de imigrantes libaneses. André (Selton Mello), é o quinto de sete filhos. Ele não aceita as normas rígidas impostas por seu pai (Raul Cortez). Mesmo sendo muito ligado à mãe (Juliana Carneiro da Cunha) e a Ana (Simone Spoladore), sua irmã, ele decide ir embora de casa. Algum temo depois, André é procurado por seu irmão mais velho, Pedro (Leonardo Medeiros), que pede que ele retorne. A narrativa, inteiramente introspectiva, vai e volta no tempo, remontando o passado de André e as razões que o fizeram ir embora. Poético nos diálogos, impactante nas imagens e surpreendente no trabalho dos atores, Lavoura Arcaica é uma obra singular no Cinema brasileiro. Em princípio, seria finalizado com recursos do Canal Plus, da França, que queria uma duração que não ultrapassasse duas horas. O corte final de Carvalho ficou com quase três horas e os franceses pularam fora. Por conta disso, o filme levou mais de dois anos para ficar pronto. O próprio diretor montou o filme, que foi lançado nos cinemas somente em 2001, alcançando grande sucesso nos festivais onde foi exibido.