Ney de Souza Pereira, mais conhecido como Ney Matogrosso, merecia uma cinebiografia à altura de sua importância para a música e a cultura brasileiras. E o cineasta paulista Esmir Filho preencheu essa lacuna escrevendo e dirigindo este Homem Com H. Apesar de eu preferir abordagens biográficas com recortes específicos e representativos da vida do retratado, reconheço que isso seria um pouco difícil em tratando de uma figura como Ney Matogrosso, vivido de maneira minuciosamente perfeita por Jesuíta Barbosa, neste que é, seguramente, o mais importante papel de sua carreira até o momento. Sua presença em cena é, para dizer o mínimo, fascinante, magnética e hipnótica. Sem esquecer o trabalho corporal e gestual, que é impecável. O filme acompanha a trajetória do artista de sua infância até boa parte de sua vida adulta. Um período de tempo próximo a 50 anos. A narrativa proposta pelo roteirista/diretor cria uma espécie de rima visual/sonora que abre e fecha o filme. No meio de tudo, a difícil relação com o pai militar, a saída de casa, o início da trajetória do artista no Rio de Janeiro e a rápida e marcante participação no Secos e Molhados, em 1973 e 1974. Depois disso, a carreira solo e seus principais envolvimentos amorosos. Ney sempre foi um contestador. E Homem Com H deixa isso bastante evidente. Além disso, o filme não tem pudor em tratar os momentos mais íntimos e pessoais de sua vida. Como pano de fundo, as transformações sociais, culturais e políticas do Brasil da década de 1940 e até a de 1990. Ney Matogrosso fez por merecer. Homem Com H foge de muitas armadilhas que costumam aparecer em cinebiografias similares. É Cinema com C.
HOMEM COM H (Brasil 2025). Direção: Esmir Filho. Elenco: Jesuíta Barbosa, Rômulo Braga, Hermila Guedes, Bruno Montaleone, Jullio Reis, Carol Abras, Lara Tremouroux, Jeff Lyrio e Mauro Soares. Duração: 130 minutos. Distribuição: Paris Filmes.
