E quem disse que não temos filmes de ficção-científica no Brasil? É verdade que a oferta de obras de gêneros é pequena. No entanto, ela vem crescendo, para nossa felicidade cinéfila, nos últimos anos. Branco Sai, Preto Fica, produzido, escrito e dirigido por Adirley Queiros, exemplifica essa tendência. Rodado em Ceilândia, na periferia de Brasília, a obra parte de um fato ocorrido em 1986 durante um baile de black music na capital federal quando a polícia invade o local atirando e manda todos os brancos saírem e mantém dentro apenas os negros. O resultado da operação mudou a vida de dois homens. Um perdeu uma perna e outro ficou paralítico da cintura para baixo. Nenhum culpado foi identificado ou punido. Entra em cena então um detetive do futuro com a missão de resolver o caso e fazer justiça. Não é de hoje que a ficção-científica é utilizada na literatura, no cinema e na TV para tratar de questões bem presentes em nossa rotina diária. Queirós não foge dessa consagrada fórmula, mas faz uso dela com criatividade e ousadia ao inserir fatores políticos, sociais e de repressão policial junto com o há muito tempo discutido racismo estrutural que existe em nosso país.
BRANCO SAI, PRETO FICA (Brasil 2014). Direção: Adirley Queirós. Elenco: Marquim do Tropa, Shockito, Dilmar Durães, Gleide Firmino e DJ Jamaika. Duração: 93 minutos. Distribuição: Vitrine Filmes/Netflix.