Existe uma máxima que diz que todos nós temos pelo menos uma boa história para contar: a nossa própria. A literatura e o cinema estão repletos de exemplos de obras que retratam períodos, especialmente da infância, de seus autores. Grandes cineastas já fizeram isso: Bergman, Cuarón, Fellini, Kurosawa, Truffaut e muitos outros. Com Belfast, escrito e dirigido pelo britânico Kenneth Branagh, entra para esse seleto grupo de “autocinebiografias”. O roteiro nos leva até o ano de 1969 na cidade que dá título ao filme. Lá somos apresentados ao pequeno e esperto Buddy (o estreante Jude Hill), um menino de nove anos que vive com os pais (Jamie Dornan e Caitriona Balfe), os avós (Ciarán Hinds e Judi Dench) e o irmão mais velho (Lewis McAskie). A família de Buddy, protestante, se encontra no meio de uma violenta disputa religiosa com os católicos, além das lutas das classes trabalhadoras. Tudo isso em meio a profundas mudanças socioculturais, tão características daquela época. O olhar que conduz a narrativa é o de Buddy, que filtra tudo a partir das conversas que tem com o avô e dos filmes que vê no cinema próximo de sua casa. Belissimamente fotografado em preto e branco, Belfast tem algumas poucas cenas em cores. Curiosamente a cor aparece nos filmes que eles assistem. Talvez para reforçar seu caráter de sonho em contraste com a dura realidade que vivem. Sentimental sem ser piegas, o grande charme aqui é a presença viva, iluminada, alegre e carismática de Jude Hill. Belfast recebeu sete indicações ao Oscar 2022: filme, direção, ator coadjuvante (Ciarán Hinds), atriz coadjuvante (Judi Dench), roteiro original, som e canção (Down to Joy, composta e cantada por Van Morrison).

BELFAST (Inglaterra 2021). Direção: Kenneth Branagh. Elenco: Jude Hill, Caitriona Balfe, Jamie Dornan, Judi Dench, Ciarán Hinds, Lewis McAskie e Lara McDonnell. Duração: 98 minutos. Distribuição: Universal.