O carioca João Jardim é cria da televisão, onde iniciou carreira em 1995. Seis anos depois estreou no cinema com o premiado documentário Janela da Alma e desde então vem se dividindo entre cinema e TV dirigindo docs, séries e filmes de ficção. Porém, seus longas ficcionais têm um forte tom documental e não é diferente em As Polacas, de 2023. O roteiro, escrito por George Moura, Jaqueline Vargas, Teresa Frota e Flávio Araújo, é livremente inspirado nos relatos verídicos contidos nas obras La Polaca, de Myrtha Schalom e El Infierno Prometido, de Elsa Drucaroff. A ação se passa no início do século XX e tem como pano de fundo a história real de mulheres que imigraram para o Brasil a partir de 1867 vindas da Polônia. Elas eram judias e buscavam uma vida nova e melhor em nosso país. Acompanhamos o drama da jovem Rebeca (Valentina Herszage), que chega ao Rio de Janeiro com seu filho ainda menino e descobre que o marido, que veio antes, tinha morrido. Sozinha e sem condição de se manter, ela aceita a ajuda de Tzvi (Caco Ciocler), um judeu que na verdade se aproveita da precária situação de suas conterrâneas para escravizá-las como prostitutas. As Polacas é, antes de tudo, um filme que procura denunciar e, na mesma medida, resgatar a dignidade dessas mulheres. No entanto, Jardim se revela bastante burocrático. Apesar da boa reconstituição de época, da acertada direção de arte e do ótimo figurino, a estrutura narrativa do diretor é truncada, o que faz com que a trama perca muito de sua natural carga dramática.
AS POLACAS (Brasil 2023). Direção: João Jardim. Elenco: Valentina Herszage, Caco Ciocler, Dora Freind, Eron Cordeiro, Amaurih Oliveira, Otávio Müller, Clarice Niskier e Ana Kutner. Duração: 125 minutos. Distribuição: Imagem Filmes.