O nova-iorquino James Gray vem construindo uma sólida filmografia há pouco mais de três décadas, quando começou a trabalhar com audiovisual. Dentre os oito longas que dirigiu até o momento, Armageddon Time, de 2022, talvez seja o mais pessoal de todos, apesar de suas obras lidaram com temas recorrentes que seguramente têm origem na vida do diretor. O roteiro escrito por ele próprio nos leva à Nova York de 1980, pouco antes de Ronald Reagan vencer a eleição para presidente. Trata-se, na verdade, de um ritual de passagem, no caso, do garoto Paul (Banks Repeta), que vive com os pais (Anne Hathaway e Jeremy Strong) e o irmão mais velho Ted (Ryan Sell), no Queens. Muito ligado ao avó materno (Anthony Hopkins), ele sonha se tornar um artista famoso e após ficar amigo de Johnny (Jaylin Webb), um colega negro de sua escola, certas escolhas provocam mudanças inesperadas. A questão do preconceito, tanto contra judeus, caso da família de Paul, como em relação à cor da pele de Johnny, está no centro de tudo. A forma como o diretor olha para seu passado e o recria aqui é tocante e corajoso. O elenco inteiro está perfeito, mas Hopkins, em particular, brilha sempre que aparece e não posso esquecer de destacar o jovem Banks Repeta, que não fica atrás. E tudo embalado por uma bela e certeira trilha sonora. Em tempo: o título do filme faz referência a uma canção da banda inglesa The Clash, inserida no álbum Black Market Clash, bem como a uma fala repetida inúmeras vezes por Reagan.
ARMAGEDDON TIME (EUA/Brasil 2022). Direção: James Gray. Elenco: Anne Hathaway, Jeremy Strong, Banks Repeta, Jaylin Webb, Anthony Hopkins, Ryan Sell, Andrew Polk, Toavah Feldshuh e Jessica Chastain. Duração: 114 minutos. Distribuição: Universal.
