Em pouco mais de três décadas de carreira, o cineasta M. Night Shyamalan, para o bem ou para mal, desenvolveu uma assinatura narrativa própria em sua filmografia. Especialmente a partir de seu primeiro grande sucesso, O Sexto Sentido, de 1999. Desde então conquistou uma fiel legião de fãs que prestigia seus trabalhos, independente do que a crítica diga ou até mesmo outros fãs não tão fervorosos. Armadilha, de 2024, seu 16º longa, tem dividido opiniões, algo recorrente para as obras de Shyamalan desde A Dama da Água, de 2006. O roteiro do novo filme, escrito pelo próprio diretor, tem um premissa bem interessante. Vemos um pai, Cooper (Josh Hartnett) acompanhando sua filha Riley (Ariel Donoghue) em um show da cantora Lady Raven (Saleka Shyamalan, filha do cineasta na vida real). Cooper desconfia da excessiva presença policial no local e descobre que eles estão lá para capturar um assassino em série que se encontra ali. Sabemos desde o trailer do filme que Cooper é esse assassino e a partir daí somos testemunhas das ações dele para escapar daquele cerco. Existe tensão, é verdade, mas existe também muitas facilitações do roteiro e isso, em certa medida, incomodou. Especialmente na segunda metade do filme. Armadilha é mais um típico Shyamalan e por conta justamente dessa característica traz uma carga adicional que, como já escrevi no início dessa resenha, divide opiniões. E talvez esteja aí a graça de tudo. Eu, particularmente, acho estimulante ver um filme que provoca esse tipo de discussão. Em tempo: a exemplo do que papai Shyamalan fez para sua outra filha, Ishana, que escreveu e dirigiu episódios da série Servant, da Apple TV+, assim escreveu e dirigiu o longa Os Observadores, ambos produzidos por ele, este Armadilha é, em boa parte, um veículo para Saleka, sua filha cantora, compositora e, aqui, também atriz.
ARMADILHA (Trap – EUA 2024). Direção: M. Night Shyamalan. Elenco: Josh Hartnett, Ariel Donoghue, Saleka Shyamalan, Hayley Mills, Alison Pill e Marnie McPhail. Duração: 105 minutos. Distribuição: Warner.