A trágica história de Angela Diniz ganhou as manchetes nacionais em dezembro de 1976. Já no ano seguinte, o filme Os Amores da Pantera, dirigido por Jece Valadão e estrelado por Vera Gimenez, se “inspirou” no fato ao apresentar uma trama de caráter, digamos assim, sensacionalista e tendenciosa. Agora, quase cinco décadas depois, Hugo Prata, que já havia dirigido a cinebiografia Elis, em 2016, sobre a cantora Elis Regina, nos traz Angela. A obra apresenta um recorte da vida da socialite no período de agosto a dezembro de 1976. Nesses quatro meses, Angela Diniz (Ísis Valverde), então com 32 anos, conheceu e se envolveu com Raul (Gabriel Braga Nunes), que veio a matá-la. O roteiro de Duda de Almeida desenvolve uma trajetória que inicia com um olhar de cobiça, passa depois à sedução e vai, aos poucos, escalando degraus de abuso e violência. A decisão do diretor em entregar o roteiro a uma mulher foi das mais acertadas. E não apenas pela questão de dar voz à vítima ou mesmo de representatividade. Há sutilezas do universo feminino que enriquecem a narrativa que um homem não conseguiria desenvolver a contento. O filme aborda um típico exemplo de feminicídio ocorrido numa época em que era comum culpar a mulher e alegar “legítima defesa da honra”. Infelizmente, esse tipo de postura machista e sexista ainda persiste nos dias de hoje. Angela relata uma história ocorrida há quase 50 anos, mas que dialoga com nosso tempo presente, uma vez que testemunhamos diariamente inúmeras “Angelas” sofrerem agressões semelhantes, sejam elas físicas, psicológicas ou mortais.
ANGELA (Brasil 2023). Direção: Hugo Prata. Elenco: Ísis Valverde, Gabriel Braga Nunes, Alice Carvalho, Emílio Orciollo Neto, Bianca Bin, Carolina Mânica, Gustavo Machado e Chris Couto. Duração: 104 minutos. Distribuição: Downtown Filmes.