Confesso que conhecia o músico Emicida apenas de sua sempre pertinente participação na TV, no programa Papo de Segunda, do canal pago GNT. Fora daí, nada sabia sobre seu trabalho. Dito isso, assisti ao documentário AmarElo: É Tudo Pra Ontem, de Fred Ouro Preto, por pura curiosidade cinéfila. Que decisão acertada eu tive. Sabe aquele tipo de filme que abre um mundo inteiramente desconhecido e que estava na tua frente? É assim com AmarElo. Ou pelo menos foi pra mim e espero que o seja para aqueles que se disponham a vê-lo. Leandro Roque de Oliveira, mais conhecido como Emicida, produziu, escreveu o roteiro e nos apresenta uma verdadeira aula de História. E o faz com conhecimento de causa ao resgatar, em sintéticos 89 minutos, a importância da cultura negra para o Brasil. A frase “que maravilha poder entregar flores a quem você admira enquanto eles ainda podem sentir o cheiro delas”, dita por ele no meio do filme, resume com perfeição algo que ia ficando claro para mim à medida que essa aula-show avançava. No centro de tudo, uma apresentação do artista no Theatro Municipal de São Paulo, em novembro de 2019, ao lado de muitos convidados especiais. E o melhor é que em volta desse importante evento, temos uma grande lição de humanidade, inserção, generosidade, amor, liberdade, carinho, valorização e bondade. Há um ditado iorubá que abre e fecha o filme: “Exu matou um pássaro ontem com uma pedra que só jogou hoje” e que encontra o complemento ideal no verso “ano passado eu morri mas esse ano eu não morro”, da canção Sujeito de Sorte, de Belchior. Por mais adjetivos que eu queira utilizar para enaltecer essa obra, vocês podem ter certeza, eles não serão suficientes. AmarElo vai além do obrigatório. Trata-se de uma obra necessária. Urgente. Pra ontem.
AmarElo: É TUDO PRA ONTEM (Brasil 2020). Direção: Fred Ouro Preto. Documentário. Duração: 89 minutos. Distribuição: Netflix.
