Um dos aspectos mais importantes em um filme é o ambiente onde a história acontece. Quando a locação funciona como uma personagem, aí é perfeito. E é isso o que temos em A Primeira Morte de Joana, segundo longa da roteirista e diretora gaúcha Cristiane Oliveira. O roteiro, escrito por ela junto com Gustavo Falcão e Sílvia Lourenço, trata de um ritual de passagem. No caso, o de Joana (Letícia Kacperski), de 13 anos, que no dia do velório de sua tia-avó descobre que ela nunca teve um namorado. Mesmo tendo morrido com 70 anos. Ao tomar conhecimento disso, Joana inicia uma investigação em sua própria família e na comunidade onde vive. Nessa jornada, ela se depara com segredos da mãe e da avó. Ao mesmo tempo, Joana experimenta o despertar de sua sexualidade. O olhar feminino faz toda a diferença aqui. Com poesia e sensibilidade, a diretora explora a rotina dessa menina e nos mostra seu mundo pelos olhos dela. Mas a narrativa criada pela cineasta é mais ampla ainda ao trabalhar metaforicamente a existência de cataventos gigantes de um parque eólico da região. É dito à certa altura que eles foram instalados por conta dos ventos constantes do local. Em contraponto às hélices que funcionam a partir do ar que é soprado, as amigas Joana e Carolina (Isabela Bressane) também sopram, só que suavemente e em momentos específicos. Um sopro carregado de simbolismo. Assim como muitos gestos comuns na adolescência.
A PRIMEIRA MORTE DE JOANA (Brasil 2021). Direção: Cristiane Oliveira. Elenco: Letícia Kacperski, Isabela Bressane, Joana Vieira, Lisa Gertum Becker, Janaína Kramer, Rosa Campos Velho e Emílio Speck. Duração: 91 minutos. Distribuição: Lança Filmes.