O paulista José Mojica Marins foi o primeiro artista multimidia brasileiro em uma época em que essa palavra nem existia. Sua criação, o Zé do Caixão, que ele próprio interpretava, esteve presente no cinema, na televisão, no rádio, em livros e histórias-em-quadrinhos. E tudo começou com este À Meia-Noite Levarei Sua Alma, de 1964, que Mojica escreveu (junto com a atriz Magda Mei), dirigiu e atuou. Esta foi a primeira aparição de Zé do Caixão, futuro ícone do terror feito no Brasil e que também ganhou fãs mundo agora. Ele é um sádico e cruel coveiro que almeja gerar o filho perfeito para dar continuidade ao seu nobre sangue. Mas sua esposa não consegue engravidar e isso faz com que ele tome atitudes drásticas e isso acaba gerando uma macabra reação em cadeia. Mojica, com um orçamento mínimo, cria uma pérola do gênero que se tornou tão importante que ainda hoje é inspiração para muitos jovens cineastas e motivo de vários estudos acadêmicos. A criatividade do diretor se revela aguçada na forma como ele lida com cenas de impacto que aparecem carregadas da dose certa de humor e terror. Em especial uma na qual ele come uma costeleta de porco na frente de um padre, no meio da procissão da Sexta-Feira Santa. E essa é apenas uma das transgressões. Há muitas outras e são todas ótimas de se ver.
À MEIA-NOITE LEVAREI SUA ALMA (Brasil 1964). Direção: José Mojica Marins. Elenco: José Mojica Marins, Magda Mei, Nivaldo Lima, Valéria Vasquez, Leandro Vieira, Mária Lima e Luiz Gonçalves. Duração: 92 minutos. Distribuição: Arrow Films.