O novo trabalho do roteirista e diretor italiano Paolo Sorrentino já começa com uma provocação, pelo menos para nós, brasileiros. Ele afirma que Maradona é o maior jogador de futebol que já existiu. Provocações à parte, A Mão de Deus, representante da Itália na disputa por uma indicação ao Oscar de melhor filme internacional de 2022, é um relato autobiográfico. Da mesma forma que Alfonso Cuarón fez em Roma ou Kenneth Branagh, em Belfast e, principalmente, Fellini em Amarcord. Aliás, Fellini é uma das maiores influências de Sorrentino. Antes o cineasta havia bebido dessa fonte em A Grande Beleza, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro, em 2012. Agora ele relembra a adolescência em sua Nápoles natal, em meados dos anos 1980, no período em que Maradona saiu do Barcelona e foi contratado pelo time local. O próprio título é uma referência ao famoso gol do jogador na Copa do Mundo de 1986, no México. Esse é o pano histórico de fundo para acompanharmos a história de Fabietto Schisa (Filippo Scotti), alterego de Sorrentino. Ele faz parte de uma típica família napolitana e adora seu pai (Toni Servillo) e sua mãe (Teresa Saponangelo). Sua rotina gira em torno das aulas e reuniões familiares, da paixão platônica pela tia Patrizia (Luisa Ranieri) às conversas com o irmão Marchino (Marlon Joubert). Em suma, trata-se de um ritual de passagem e amadurecimento que, como para muitos de nós, vem em decorrência de momentos de muita dor. A Mão de Deus é pessoal e, justamente por isso, bastante universal. E Sorrentino ao revisitar seu passado não poderia ter encontrado inspiração melhor que Amarcord para conduzir suas lembranças e recontá-la cinematograficamente.

A MÃO DE DEUS (È Stata la Mano di Dio – Itália 2021). Direção: Paolo Sorrentino. Elenco: Filippo Scotti, Toni Servillo, Teresa Saponangelo, Marlon Joubert, Luisa Ranieri, Renato Carpentieri, Massimiliano Gallo e Betty Pedrazzi. Duração: 130 minutos. Distribuição: Netflix.