O cineasta japonês Hirokazu Kore-eda costuma abordar o tema da perda, abandono e morte em seus filmes. De todos os que dirigiu e escreveu, Ninguém Pode Saber, de 2004, talvez seja o mais radical. Ele, que quando jovem sonhava em tornar-se autor de romances, iniciou a carreira na televisão realizando documentários e rapidamente migrou para o cinema, onde vem desenvolvendo um trabalho bastante autoral. Ninguém Pode Saber é sua obra mais conhecida. Acompanhamos aqui a história de quatro crianças, filhas de pais diferentes e que vivem com a mãe em um pequeno apartamento em Tóquio. Certo dia, a mãe vai embora e deixa um bilhete para o filho mais velho, Akira (Yûya Yagira), pedindo que ele cuide dos irmãos. Kore-eda não tem pressa em contar sua história. Ele define bem as personagens e os espaços ao redor delas. Tendo à frente um elenco predominantemente infantil, o diretor-roteirista revela um dom especial para lidar com crianças e extrai desempenhos soberbos dos pequenos, em especial, de Yûya Yagira, que ganhou a Palma de Ouro de melhor ator no Festival de Cannes de 2004. Kore-eda começa alertando que, apesar de ser baseado em fatos reais, seu filme é uma obra de ficção. A longa duração (quase duas horas e meia) e o ritmo por vezes lento podem até assustar de início. Porém, Ninguém Pode Saber é daqueles filmes que mexem com a gente, seja pelo força de sua história ou pelo constrangimento que provoca.