Na ativa desde 1966, o cineasta carioca Júlio Bressane é, sem exagero algum, um artista único na seara cinematográfica nacional. Ele, que começou a carreira dirigindo o documentário Bethânia Bem Perto: A Propósito de Um Show, ao longo dos quase 60 anos seguintes realizou dezenas de filmes marcantes do cinema brasileiro. Depois de ter visitado o universo de Machado de Assis, em 1985, com Brás Cubas, ele volta à obra machadiana com Capitu e o Capítulo, de 2021, que escreveu ao lado de Rosa Dias. Aqui, mais do que revisitar, Bressane reimagina o romance Dom Casmurro e seu clássico triângulo amoroso formado por Capitu, Bentinho e Escobar, vividos respectivamente por Mariana Ximenes, Vladimir Brichta e Saulo Rodrigues. Para muitos, um livro infilmável. Realmente é uma história bastante complexa, até por conta de seu caráter introspectivo. Mas o diretor optou acertadamente por um tom minimalismo recheado de referências pictóricas. Além disso, inseriu uma espécie de alterego do escritor na figura de Casmurro, papel de Enrique Diaz que chega em muitos momentos a quebrar a quarta parede, ou seja, olha para câmara/espectador. Bressane não costuma fazer concessões. Seu cinema nunca é fácil e muito menos “mastigado” em sua narrativa. Ou você “compra” ou esqueça. Em Capitu e o Capítulo esse estilo livre, quase anárquico e alegórico do cineasta se faz presente em sua melhor forma. É um “prato” sofisticado, sim, daqueles que devem ser apreciados aos poucos, como uma espécie de “gosto adquirido”.
CAPITU E O CAPÍTULO (Brasil 2021). Direção: Júlio Bressane. Elenco: Mariana Ximenes, Vladimir Brichta, Enrique Diaz, Djin Sganzerla, Saulo Rodrigues, Josie Antello e Cláudio Mendes. Duração: 75 minutos. Distribuição: Pandora Filmes.
