No início dos anos 1990, Francis Ford Coppola decidiu refazer os filmes de monstros clássicos da Universal. Ele próprio dirigiu Drácula de Bram Stoker, sucesso de público e crítica. Como segundo filme do projeto, ele produziu este Frankenstein de Mary Shelley, que foi dirigido e estrelado por Kenneth Branagh. Infelizmente, e sem justificativa para tanto, o filme não alcançou o sucesso que era esperado e o projeto, que na seqüência refilmaria O Homem Invisível, O Lobisomem e A Múmia, foi arquivado. Assim como em Drácula de Coppola, este Frankenstein de Branagh bebe direto na fonte original, ou seja, no livro de Mary Shelley. O próprio diretor interpreta o jovem médico, doutor Victor Frankenstein, obcecado com a idéia de criar vida. Ele “monta” uma criatura com partes dos corpos de condenados e coloca nela o cérebro de um cientista. Robert De Niro vive esta criatura. E Branagh conduz o filme como se fosse uma grande tragédia shakespeareana em ritmo de ópera gótica. Por mais estranha que possa parecer essa combinação, ela funciona muito bem e garante momentos de pura magia cinematográfica, bem como cenas de puro terror. Só nos resta imaginar como teriam sido as outras adaptações dos monstros clássicos, que infelizmente, nunca veremos com essa qualidade.
FRANKENSTEIN DE MARY SHELLEY (Mary Shelley’s Frankenstein – EUA 1994). Direção: Kenneth Branagh. Elenco: Robert De Niro, Kenneth Branagh, Tom Hulce, Helena Bonham Carter, Aidan Quinn, Ian Holm, Richard Briers, John Cleese, Robert Hardy e Cherie Lunghi. Duração: 123 minutos. Distribuição: Sony.
Respostas de 7
Concordo, Kenneth Branagh nos trouxe um Frankenstein repleto de matizes shakespeareanas – algo já observado na própria obra literária de Mary Shelley. Gosto e gosto imenso deste filme. Sorte minha tê-lo visto no cinema.
Ainda está para ser filmado uma fiel adaptação do livro de M. Shelley. O ponto falho de toda adaptação da criação monstruosa do cientista obcecado recai sobre o exagero tecnológico sobre fazer, do nada, a vida. Não convence. É só um pretexto estético e cinematográfico, escapa do real conteúdo da obra. O livro não abre nenhuma possibilidade de como, tecnicamente, o monstro cria vida – licença poética e/ou fuga de discussões científicas, claro. Mas o grande da obra literária está no conteúdo filosófico do monstro, sobre o universo criador/criatura. Vi vislumbres possíveis e positivos sobre isso em “Hulk” – de Ang Lee – e em “Senhor dos Anéis”.
Aliás, ampliando o texto, a adpatação de Coppola sobre Drácula também comete seu pecado: não existe, no livro, nenhuma ligação pessoal entre o Conde e Mina Harker, nenhum sofrimento passional ou reencarnacionista. Levei ANOS para digerir o filme, que hoje considero o melhor da filmografia do barbudo de óculos – não estou falando do Douglas, mas do Francis, rsrsrsrs.
Escrevi muito porque a minha expectativa sobre Frankenstein era muito alta na época, tinha acabado de ler o livro. Desabafei. Ponto. 😀
Glauber, entendo o que escreveste mas, ainda assim, sugiro: reveja o filme sem abraçar o livro. Comparações [literatura|cinema] engessam o olhar. Ademais, um bom filme traz fidelidade tão somente com o diretor. Contudo, por vezes gostamos do resultado, por vezes não. Enfim, valeu o desabafo. Resulta que me deu vontade de rever os dois! PS: sobre criador/criatura ninguém – até onde minha memória vai – superou Blade Runner.
Muito bem, caro Dougla, sugestão aceita e acatada. E sempre é bom lembrar da velha lição de que “adaptação” é só um estágio entre uma obra e outra. E que cada qual deve ser apreciada “per se”. E, sim, Blade Runner manda no quesito.
Isso! Vamos rever os dois neste feriadão! E, de quebra, Blade Runner [Final Cut] – pela centésima vez!
Pois é bastante divertido como horror se assusta bastante. Ele me lembrou a nova série PennyDreadful cujo tema ele discute a origem de alguns clássicos da literatura como o Dr. Frankenstein, Drácula e Dorian Gray.