Existe um problema, além da violência, que está na pauta de qualquer grande cidade brasileira: o lixo. Cada vez mais, por questões de saúde ou por pressão de comunidades organizadas, trata-se de um tema que gera debate constante. O que fazer com o lixo? Onde depositá-lo? Como reciclá-lo? O artista plástico Vik Muniz, brasileiro radicado em Nova York, desenvolveu um trabalho em um dos maiores aterros sanitários do mundo, o Jardim Gramacho, bairro de Duque de Caxias, região metropolitana do Rio de Janeiro. O documentário Lixo Extraordinário, dirigido pela inglesa Lucy Walker e pelos brasileiros Karen Harley e João Jardim, acompanha, no período de dois anos (entre agosto de 2007 e maio de 2009), a rotina de Muniz junto a um grupo de catadores de materiais recicláveis do lixão. A ideia inicial do artista era simplesmente fotografar o dia-a-dia daquelas pessoas. Aos poucos, o contato diário vai estreitando as relações entre o observador e os observados. A partir daí, Muniz, que é reconhecido pelas “releituras” que faz de obras famosas, lança um desafio aos catadores: o de reimaginar a vida deles fora daquele ambiente. Produzido pelo O2 Filmes, de Fernando Meirelles, Lixo Extraordinário, que foi indicado ao Oscar de melhor documentário em 2011, nos mostra a transformação que a arte provoca nesta comunidade. Apesar de lidar com um tema aparentemente repulsivo, o filme, muito pelo contrário, tem um “astral” elevado e provoca uma catarse extremamente positiva de satisfação. Alguns podem até questionar a maneira como o tema é tratado, no entanto, o objetivo dos realizadores era revelar o poder transformador que a arte promove na vida de qualquer pessoa. E isso, o filme faz brilhantemente.
LIXO EXTRAORDINÁRIO (Waste Land – Inglaterra/Brasil 2010). Direção: Lucy Walker, Karen Harley e João Jardim. Documentário. Duração: 99 minutos. Distribuição: Paris Filmes.
Uma resposta
Um belo documentário: tanto o conceito quanto a estética usada, próxima, bem próxima, da produção artística de Vik Muniz. Há uma sequência maravilhosa: quando Muniz e equipe técnica discutem ser ou não correto levar um representante do lixão para Londres. Genial!