Música e política se misturam? Óbvio que sim. A arte, qualquer forma de arte, é sempre política. O documentarista belga Johan Grimonprez apresenta essa boa mistura no impactante Trilha Sonora Para Um Golpe de Estado, de 2024. Aqui, ele aborda o processo de independência e descolonização do Congo, na África, ex-colônia da Bélgica. A partir da eleição de Patrice Lumumba, primeiro congolês a ser eleito democraticamente para governar o país, o diretor remonta os últimos meses dessa importante figura, de meados de 1960, quando ele assume o posto, até seu assassinato, em janeiro de 1961. O mais interessante é a maneira como Grimonprez mescla essa trajetória do líder africano com os protestos da cantora Abbey Lincoln e do percursionista Max Roach. Os dois invadiram uma sessão do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas. Há também a ida do músico Louis Armstrong ao Congo a serviço dos Estados Unidos, que tinha planos de depor Lumumba. Junto a isso as suspeitas do primeiro-ministro soviético Nikita Khrushchov em relação aos músicos de jazz que viajavam pelo mundo durante o período da Guerra Fria. Como se isso não bastasse, ainda temos em destaque assuntos envolvendo o imperialismo europeu, bem como a luta dos negros norte-americanos por seus direitos civis e as ações da ONU, que são, para dizer o mínimo, questionáveis. Inclusive, uma fala de Malcolm X dita no início do filme, permanece, infelizmente, bastante atual. Grimonprez procura entender os fatos narrados em sua obra e compartilha conosco o farto material que reuniu tendo ao fundo o melhor do jazz da época. Trilha Sonora Para Um Golpe de Estado foi indicado ao Oscar 2025 na categoria de documentário de longa-metragem.
TRILHA SONORA PARA UM GOLPE DE ESTADO (Soundtrack to a Coup d’État – Bélgica/França/Holanda 2024). Direção: Johan Grimonprez. Documentário. Duração: 150 minutos. Distribuição: Pandora Filmes.
