Diz a lenda que Quentin Tarantino trabalhou em uma locadora de vídeo e que passava o tempo assistindo a todo tipo de filme. Principalmente os chineses, os faroestes de Sergio Leone e os franceses da Nouvelle Vague. Seu diretor favorito é Jean-Luc Godard, de quem emprestou o título de um de seus filmes para batizar sua produtora, A Band Apart. Godard disse certa vez que detesta Tarantino. Até aí, nada de novo, afinal, ele detesta quase todo mundo. O que poucos não percebem, ou não querem perceber, é que o cinema tarantiniano é um cinema de recortes, de citações, de reciclagem. É como você pegar todos os seus discos, escolher as músicas que mais gosta e gravar um novo disco com aquele material, misturando diversos trechos musicais e com isso, criando novos sons. É assim que ele faz cinema. Um tipo de cinema que se alimenta do próprio cinema, porém, sem ser metalinguístico. Uma obra pós-moderna, diriam alguns estudiosos. Prefiro classificar a obra de Tarantino como rizomática, em referência aos trabalhos de Gilles Deleuze e Félix Guattari. Segundo a Teoria do Rizoma, a organização dos elementos não segue linhas de subordinação hierárquica, mas, pelo contrário, qualquer elemento pode afetar ou incidir em qualquer outro. Pulp Fiction: Tempo de Violência foi seu segundo trabalho como diretor. É, sem dúvida, seu filme mais “godardiano”. A estrutura não linear, as histórias que acontecem em tempos diferentes e são montadas meio que fora da ordem, tudo lembra Godard. Bem mais pop, é verdade, mas, mesmo assim, Godard. Outra característica marcante na obra de Tarantino reside nos diálogos. Rápidos, nervosos, urgentes. O mesmo vale para seu humor, sempre ácido e inusitado. Como exemplo, basta ver a cena em que Vincent (John Travolta) mata uma pessoa dentro do carro por acidente ou quando Mia (Uma Thurman) tem uma overdose. Sem esquecer da história do relógio contada pelo capitão Koons (Christopher Walken) e da “habilidade” especial do senhor Wolf (Harvey Keitel). Tarantino também é bom em ressuscitar carreiras. Aqui, temos o retorno triunfal de um John Travolta já quase esquecido. Pulp Fiction ganhou em 1995 o Oscar de melhor roteiro original.
PULP FICTION: TEMPO DE VIOLÊNCIA (Pulp Fiction – EUA 1994). Direção: Quentin Tarantino. Elenco: John Travolta, Uma Thurman, Samuel L. Jackson, Tim Roth, Amanda Plummer, Eric Stoltz, Bruce Willis, Ving Rhames, Phil LaMarr, Maria de Medeiros, Rosanna Arquette, Christopher Walken, Harvey Keitel e Quentin Tarantino. Duração: 154 minutos. Distribuição: Buena Vista/Imagem Filmes.
Respostas de 5
Tarantino sabe o que fazer com todas as referencias que foi acumulando ao longo dos anos… Pulp Fiction é aquele raro tipo de filme em que nenhuma cena é descartável. É uma sucessão de sequências uma mais marcante que a outra, o que se deve ao roteiro e aos atores em si, principalmente Samuel L. Jackson e John Travolta.
Se retirarmos os divertidos diálogos, não sobra muito de novo na obra como um todo. Nesta e em outras. Com um roteiro inventivo, mas fraco, não se sustenta sem a presença de ótimos atores. E John Travolta é um caso curioso, pois cada filme que ele faz parece sempre estar dando a volta por cima – já tinham falado isso 5 anos antes, com Olha Quem Está Falando. Um filme tão bom como comer o melhor hambúrguer da cidade, enquanto lê alguns salmos. Não vai te nutrir em nada, nem vai promover teu espírito, mas será sempre agradável e prazeroso. Como todo filme de entretenimento deveria ser.
PERDI a conta de quantas vezes já assisti, divertido e interessante… comprei o CD pq a trilha sonora também é legal.
JOPZ
Pulp Fiction é o verdadeiro milk shake de 5 dólares!
Independente de todas as teorias ou criticas, ver Uma Thurman e John Travolta dançando nao tem preco!!