Hector Babenco, o mais brasileiro dos cineastas argentinos, tinha apenas dois longas no currículo: O Rei da Noite e Lúcio Flávio: O Passageiro da Agonia. Surgiu então Pixote: A Lei do Mais Fraco, que Babenco adaptou a partir do livro de José Louzeiro. A exemplo de Lúcio Flávio, também baseado em um livro de Louzeiro, visitamos o submundo de uma grande cidade. Enquanto no filme anterior trata-se da vida de um criminoso carismático e inteligente, em Pixote conhecemos um lado cruel e, infelizmente, bem real de São Paulo. Uma realidade que mostra crianças que perdem sua inocência em um mundo de crimes, drogas e prostituição. Um dia-a-dia violento e sem esperança. O filme de Babenco, de maneira quase documental, não enfeita nada. A vida desse grupo de garotos é mostrada em cores fortes e saturadas. Sem filtro algum. O diretor trabalhou com meninos de rua, e com isso, consegue uma autenticidade assombrosa. O próprio ator principal, Fernando Ramos da Silva, encontrava-se em situação semelhante a que viveu no filme. Com muita habilidade Babenco conseguiu driblar a forte censura da época e conquistou muitos prêmios no Brasil e no exterior, o que abriu as portas para trabalhos fora do país. Pixote terminou fechando um círculo onde a arte imitou a vida, que por sua vez imitou a arte. O ex-menino de rua que virou ator e conheceu o mundo, terminou por voltar para as ruas e acabou morto pela polícia. Um filme forte, contundente e obrigatório.
PIXOTE: A LEI DO MAIS FRACO (Brasil 1981). Direção: Hector Babenco. Elenco: Fernando Ramos da Silva, Maríla Pêra, Jardel Filho, Jorge Julião, Gilberto Moura, Edilson Lino, Zenildo Oliveira Santos e Israel Feres David. Duração: 128 minutos. Distribuição: Europa Filmes/Versátil.
Uma resposta
Um dos grandes momentos na cinematografia brasileira. Imperdível. Marília Pera dá um brilho à parte. Babenco sempre foi um ótimo diretor de atores.