Talvez não seja um exagero afirmar que Michael Haneke é o cineasta que melhor retrate a sociedade atual. Afinal, seus filmes possuem um olhar cruel e preciso do mundo que vivemos. Em O Vídeo de Benny, de 1991, seu segundo longa e obra que o projetou internacionalmente, temos uma história escrita pelo próprio diretor que dá continuidade temática a O Sétimo Continente, realizado três anos antes. Parte dois da Trilogia da Frieza, somos apresentados aqui ao adolescente Benny (Arno Frisch). Ele é um cinegrafista amador fascinado pelas imagens que vê e grava do mundo que criou dentro de seu quarto. Até que um acontecimento expõe, sem piedade, a fragilidade emocional daquele suposto oásis. Não há sentimentalismos, muito menos concessões no cinema de Haneke. Existe, sim, uma sensação recorrente na filmografia do diretor: incômodo. Em certa altura da canção Índios, da banda Legião Urbana, ouvimos a frase “nos deram espelhos e vimos um mundo doente”. Esta frase resume bem o que faz Haneke com suas narrativas provocadoras. Elas são nossos espelhos e o que vemos é simplesmente o reflexo do que somos e fazemos. Cru, seco e direto. Como um soco no estômago.
O VÍDEO DE BENNY (Benny’s Video – Áustria 1992). Direção: Michael Haneke. Elenco: Arno Frisch, Angela Winkler, Ulrich Mühe e Ingrid Stassner. Duração: 105 minutos. Distribuição: Obras-Primas do Cinema.