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O ÚLTIMO AZUL

O cineasta pernambucano Gabriel Mascaro iniciou sua carreira no audiovisual em 2008 com o documentário KFZ-1348. Na sequência realizou outros quatro docs até estrear na direção de longas com Ventos de Agosto, em 2014, e no ano seguinte Boi Neon, seu segundo longa, lhe deu projeção nacional e internacional. Sua filmografia tem como uma das características apresentar temas inusitados e, em certa medida, distópicos. Foi assim com Divino Amor, de 2019, e novamente com O Último Azul, de 2025, vencedor do Urso de Prata no Festival de Berlim. O roteiro, escrito pelo próprio diretor, ao lado de Tibério Azul e com a colaboração de Murilo Hauser e Heitor Lorega, nos leva a um Brasil situado em um futuro próximo onde as pessoas com 75 anos são recolhidas e levadas para viver os últimos dias em colônias habitacionais. É curioso perceber um ritual de “premiação” aos que chegam a essa idade e mais curioso ainda a maneira como são “conduzidos” de suas casas. Isso tudo faz parte de uma política de “exílio forçado” promovida pelo governo para permitir que os jovens possam produzir mais sem ter que se preocupar com seus velhos. A ação se passa na Amazônia onde conhecemos Tereza (Denise Weinberg), uma mulher de 77 anos que recebe a comunicação de que precisa sair de sua casa e se mudar para a colônia. O problema é que ela ainda tem sonhos e deseja fazer coisas que ainda não fez. Ou seja, Tereza quer viver plenamente sem que o estado decida seu futuro. No caminho ela encontra Cadu (Rodrigo Santoro), dono de um barco que a ajuda a seguir em frente e lhe revela alguns segredos relativos ao “azul” do título do filme. Inquieta, curiosa e essencialmente desobediente, ela pode até não saber direito o que quer, mas sabe definitivamente o que não quer para sua vida. Mascaro nos conduz por essa jornada pessoal de autoconhecimento e descobrimento de um mundo até então desconhecido. A narrativa começa de maneira dura, seca e burocrática. Afinal, aquela realidade é assim. À medida em que Tereza avança em sua viagem é visível uma mudança não apenas em sua postura, mas também no visual do filme, que assume uma tonalidade, digamos assim, mais psicodélica. Por fim, O Último Azul é uma obra madura de um artista criativo e antenado com seu tempo que faz uso de alegorias distópicas para discutir temas relevantes e urgentes de nosso cotidiano. E o faz sem perder um dos mais belos sentimentos humanos: a esperança!

O ÚLTIMO AZUL (Brasil 2025). Direção: Gabriel Mascaro. Elenco: Denise Weinberg, Rodrigo Santoro, Adanilo Reis, Miriam Socarrás, Rosa Malagueta, Clarissa Pinheiro, Dimas Mendonça, Isabela Catão e Tony Ferreira. Duração: 86 minutos. Distribuição: Vitrine Filmes.

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