No início dos anos 1990 o cineasta italiano Bernardo Bertolucci se encontrava talvez no momento já tranquilo de sua carreira. Diferente do que havia ocorrido 20 anos antes, quando chamou a atenção por conta de Último Tango em Paris e toda a polêmica que ele causou, ele desfrutava agora uma unanimidade rara em sua trajetória artística. Afinal, havia ganhado nove Oscar com a super produção O Último Imperador e vinha do intimista O Céu Que Nos Protege quando dirigiu este transcendental O Pequeno Buda, encerrando aquela que ficou conhecida como “trilogia oriental” do cineasta. A história, criada pelo próprio Bertolucci, teve o roteiro escrito por Rudy Wurlitzer e Mark Peploe e nos apresenta o casal Lisa (Bridget Fonda) e Dean Conrad (Chris Isaak). Eles recebem a visita de dois monges tibetanos alegando que Jesse (Alex Wiesendanger), o filho de dez anos deles, pode ser a reencarnação de Lama Dorie. Em paralelo, acompanhamos a história do príncipe Sidarta (Keanu Reeves), narrada de maneira fabular. Há dois filmes distintos aqui, bem como duas visões de mundo: o espiritual como visto pelos monges, e o material filtrado pelo olhar de Dean. Bertolucci trafega muito bem por ambos, apesar de ficar evidente qual é o preferido dele. E a bela fotografia de Vittorio Storaro, colaborador recorrente nas obras do diretor, reforça ainda mais o caráter onírico-transcendental proposto.
O PEQUENO BUDA (Little Buddha – França/Liechtenstein/Inglaterra 1993). Direção: Bernardo Bertolucci. Elenco: Keanu Reeves, Bridget Fonda, Ruocheng Ying, Chris Isaak, Alex Wiesendanger, Sogyal Rinpoche, Raju Lal e Jo Champa. Duração: 140 minutos. Distribuição: Miramax/Top Tape.