Roman Polanski tem um mandado de prisão antigo expedido pela justiça americana. Em 1977 ele transou com uma menina de 13 anos numa festa na casa de Jack Nicholson. Foi acusado de estuprar a menor e, quando estava em liberdade condicional, fugiu dos Estados Unidos temendo receber prisão perpétua. Por conta disso, no dia 26 de setembro de 2009 ele foi preso na Suíça. De dentro da prisão ele finalizou a montagem de O Escritor Fantasma, seu primeiro filme em cinco anos. O anterior havia sido Oliver Twist, lançado em 2005. Infelizmente, talvez pelo fato de estar preso, seu novo filme não teve o reconhecimento que merecia. Muita gente costuma misturar os problemas pessoais do diretor com seus trabalhos. Sua obra está acima das manchetes sensacionalistas e O Escritor Fantasma é mais uma prova disso. Como é recorrente nos filmes de Polanski, as coisas nunca são o que parecem ser e a personagem do “fantasma”, que não tem nome, vivida pelo ator Ewan McGregor, rapidamente começa a perceber isso. Mesmo que ao longo do filme ele fale demais e sem muito critério. A impressão que passa é que os acontecimentos ao seu redor são grandes demais para que ele não deixe ou não consiga deixar de se envolver. O clima do filme é claustofóbico, pontuado quase que inteiramente por um forte tom cinza na fotografia de Pawel Edelman e pela música de Alexandre Desplat, que reforça esse clima de opressão e angústia. Além de McGregor, outro nome que brilha no elenco é Pierce Brosnan, um ex-político que contrata o “fantasma” para escrever sua autobiografia. Nesse jogo de aparências e dissimulações, Polanski vai tecendo sua teia de mistérios e nos envolvendo em uma trama típica de Hitchcock, que é recheada com bons diálogos, um humor ácido e um final inesperado, porém, bastante coerente.