As personagens de Minha Adorável Lavanderia poderiam ser resumidas como “pessoas-intervalos”. Não por acaso, em um dos primeiros diálogos do filme, alguém diz para Omar (Gordon Warnecke) que está cansado de “in betweens”, expressão em inglês que significa algo como “estar no meio do caminho”. Trata-se de uma metáfora perfeita para ilustrar tanto os dilemas de Omar como também os de Johnny (Daniel Day-Lewis). Baseado no romance escrito e adaptado para o cinema por Hanif Kureishi, Minha Adorável Lavanderia foi o filme que revelou ao mundo o talento do diretor inglês Stephen Frears. Foi também o primeiro papel de destaque do ator Daniel Day-Lewis. Na trama, acompanhamos principalmente o dilema de Omar, um homem dividido em diversos sentidos: é filho de paquistaneses, mas nasceu na Inglaterra, ou seja, é inglês, mas parece estrangeiro; admira o idealismo do pai, mas termina seguindo o pragmatismo do tio rico; é gay, mas esconde isso da família. A lavanderia que ele monta cheio de idéias se transforma no catalisador das grandes mudanças de sua vida. Seu amigo Johnny vai trabalhar com ele e a amizade vira paixão. Frears conduz o romance entre Omar e Johnny de maneira delicada e sensível. Isso fica claro em dois momentos especiais: o primeiro beijo que eles trocam e na seqüência do banho. Porém, o amor dos dois é também como a vida deles, está no meio do caminho. Nunca é assumido de público, apesar de visível no olhar de ambos. Frears trafega por caminhos tortuosos. Qualquer outro diretor menos talentoso tenderia a cair na caricatura ao mostrar o relacionamento dos dois. Em suas mãos, a história adquire tons fantasiosos, quase surreais, e que fazem toda a diferença.