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MARIGHELLA

Se você fosse um ator reconhecido em seu país e até em outras partes do mundo e decidisse estrear na direção de um longa-metragem, que tipo de filme você iria escolher? Na maioria dos casos esse ator escolheria um drama simples com um elenco enxuto, certo? Bem, não foi essa a escolha do brasileiro Wagner Moura. Ele optou por contar a história de Carlos Marighella na cinebiografia Marighella, filme que está pronto desde 2019 e somente dois anos depois de sua conclusão chega ao grande público fora do circuito de festivais de cinema. O roteiro, escrito por Moura junto com Felipe Braga, tem por base o livro Marighella: O Guerrilheiro Que Incendiou o Mundo, de Mário Magalhães, publicado em 2012. À frente do elenco, Seu Jorge dá vida ao político, escritor, guerrilheiro e ativista baiano que lutou contra a ditadura militar brasileira na segunda metade dos anos 1960. Há um claro recorte cinematográfico que me fez lembrar a frase dita pelo editor do jornal no final de O Homem Que Matou o Facínora, dirigido por John Ford, em 1962: “quando a lenda é maior que a história, publique-se a lenda”. Marighella faz jus ao que realmente é e funciona como um filme de ação, ao mesmo tempo em que lida com personagens complexas e bem construídas, embaladas com uma reflexão histórica contundente. Wagner Moura, que até faz uma ponta na obra e esteve o tempo todo junto dos atores durante as filmagens, revela-se um diretor seguro e com forte e intenso controle da narrativa. Já na abertura temos um belo plano-sequência que impressionou Brian DePalma, um mestre desse plano que move a câmera sem cortes. É visível também o engajamento de todo o elenco, em especial Seu Jorge e Bruno Gagliasso, que vive seu antagonista. A impressão que tive, e acredito estar certo, é que os atores e as atrizes parecem ter participado do filme por amor e crença na importância e urgência do projeto. “Eu não tive tempo para ter medo”. Essa frase dita por Marighella resume bem a postura do filme e, na mesma medida, de seu diretor. A grande lição que fica é que quando negamos o passado somos levados fatalmente a repetir os mesmos erros no futuro. Marighella é também um sinal de alerta e de resistência para que certas passagens de nossa história recente não sejam esquecidas. Ou pior, que elas não sejam repetidas. Em tempo: Maria Marighella, neta do retratado, faz aqui o papel de sua avó, Elza Sento Sé.

MARIGHELLA (Brasil 2019). Direção: Wagner Moura. Elenco: Seu Jorge, Bruno Gagliasso, Adriana Esteves, Herson Capri, Humberto Carrão, Luiz Carlos Vasconcelos, Charles Paraventi, Guilherme Ferraz, Bella Camero, Carla Ribas, Brian Townes, Ana Paula Bouzas e Maria Marighella. Duração: 155 minutos. Distribuição: Paris Filmes.

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