Eduardo Coutinho é considerado o melhor documentarista do cinema brasileiro. E deve ser mesmo. Ele tem uma característica bem peculiar: quebra qualquer gelo. Explico melhor. Coutinho vai chegando de mansinho, sabe ouvir e dar tempo às pessoas. Sua sensibilidade permite que ele se aproxime, se “aconchegue” e conquiste a confiança do entrevistado. E os temas que ele escolhe para seus filmes criam uma dúvida das mais saudáveis: será que estamos mesmo diante de um documentário? Em Jogo de Cena, esta “dúvida” nunca esteve tão presente. A ideia é bem simples. Coutinho colocou um anúncio no jornal e 83 mulheres atenderam ao chamamento para contar suas histórias de vida em um estúdio. Deste total, 23 foram selecionadas e gravadas em um teatro. A partir daí, poucos meses depois, estas histórias foram interpretadas por atrizes. Um verdadeiro “jogo de cena”, como o próprio título, de maneira precisa, anuncia. O curioso é que, depois de um certo tempo, simplesmente não sabemos o que é verdade e o que é encenação. E é justamente nessa “dificuldade” que reside a força do filme. Coutinho, habilmente, brinca com nossa percepção do real e do artificial. Jogo de Cena tem como base uma ideia bem simples. Sua execução, no entanto, é das mais complexas. É aí que entra a genialidade de Eduardo Coutinho. E ela faz toda a diferença.
JOGO DE CENA (Brasil 2007). Direção: Eduardo Coutinho. Elenco: Marília Pêra, Andréa Beltrão, Fernanda Torres, Aleta Gomes Vieira, Claudiléa Cerqueira de Lemos, Débora Almeida, Gisele Alves Moura, Mary Sheyla e Sarita Houli Brumer. Duração: 107 minutos. Distribuição: VideoFilmes.
Uma resposta
Jogo de Cena é um dos melhores exemplos desta linha tênue entre o cinema de ficção e o cinema de não-ficção. E Coutinho é um dos meus pais nesta família intelectual. Maravilha observar que respiramos o mesmo ar brasileiro!