Uma das principais obsessões do cineasta canadense David Cronenberg é o corpo humano. Tema recorrente em quase todos os seus filmes. De todos eles, talvez Gêmeos – Mórbida Semelhança seja o mais emblemático. Com roteiro do próprio Cronenberg, junto com Norman Snider, a história tem por base o romance Gêmeos, escrito por Bari Wood e Jack Geasland. Acompanhamos aqui, desde a pré-adolescência, os irmãos Beverly e Elliot Mantle, papel duplo, na fase adulta, do ator Jeremy Irons. Gêmeos univitelinos, os dois se formam em Medicina e montam uma clínica especializada em fertilidade feminina. Fica bem claro, desde o início, a forte relação simbiótica dos irmãos Mantle. Elliot, mais extrovertido, é o que aparece mais. Beverly, mais tímido, fica mais tempo recluso, cuidando das pesquisas. A forma como se tratam, pelos apelidos de “Bev” e “Elly”, já antecipa a falta de completude da personalidade de ambos. Os dois dividem tudo. Do apartamento onde moram, a clínica onde trabalham, até as mulheres com quem se relacionam. Surge então a atriz Claire Niveau (Geneviève Bujold), que provoca uma ruptura na rotina dos irmãos. E, a partir daí, o diretor se aprofunda mais ainda na sua obsessão pelo corpo humano. Dirigido com elegância e precisão cirúrgica, Gêmeos – Mórbida Semelhança possui uma tensão constante e não envelheceu um ano sequer. Não por acaso, é considerado a obra-prima de Cronenberg. Além disso, traz Jeremy Irons no melhor e mais complexo papel de toda sua carreira.
GÊMEOS – MÓRBIDA SEMELHANÇA (Dead Ringers – EUA/Canadá 1988). Direção: David Cronenberg. Elenco: Jeremy Irons, Geneviève Bujold, Stephen Lack, Heidi von Palleske, Shirley Douglas e Barbara Gordon. Duração: 116 minutos. Distribuição: Versátil.
Uma resposta
Difícil sair incólume deste filme. Dos mais perturbadores assinados por Cronenberg.