O casal belga Felix van Groeningen e Charlotte Vandermeersch estreiam na direção conjunta com o tocante As Oito Montanhas. Antes os dois haviam escrito juntos o roteiro de Alabama Monroe, que Groeningen dirigiu sozinho em 2012. Desta vez a dupla adaptou o romance homônimo do italiano Paolo Gognetti que conta uma bela história de amizade. Tudo tem início nos primeiros anos da década de 1980. Somos apresentados aos meninos Pietro (Lupo Barbiero) e Bruno (Cristiano Sassella). Pietro vive em Turin e vai passar as férias de verão em uma pequeníssima aldeia na região montanhosa da Itália, próxima aos alpes suíços. Lá vive Bruno com seus tios. Ambos têm em comum uma vida solitária. Isso faz deles amigos instantâneos. A partir daí, acompanhamos essa amizade ao longo das décadas seguintes. Apesar de um período de separação, o reencontro acontece e aquele laço de infância permanece intacto. No entanto, existem diferenças que parecem intransponíveis. Filmado com razão de aspecto 4:3, o que deixa a imagem em formato quase quadrado, confesso que fique bem incomodado. Imaginava que as paisagens naturais mostradas demandariam que a lente da câmera fosse a mais aberta possível. Mas não é da exuberância das locações que se trata aqui. O foco está nos conflitos internos de Pietro e Bruno, vividos na fase adulta por Luca Marinelli e Alessandro Borghi, respectivamente. E isso o filme aborda com bastante propriedade. A construção precisa das duas personagens principais é mostrada sem correria, com o tempo necessário para que as conheçamos e, consequentemente, nos envolvamos emocionalmente. Isso faz toda a diferença e ao final, carregamos aquele sentimento conosco.
AS OITO MONTANHAS (Le Otto Montagne – Itália/Bélgica/França/Inglaterra 2022). Direção: Charlotte Vandermeersch e Felix Van Groeningen. Elenco: Luca Marinelli, Alessandro Borghi, Lupo Barbiero, Cristiano Sassella, Elena Lietti, Filippo Timi, Gualtiero Burzi e Elisabetta Mazzullo. Duração: 147 minutos. Distribuição: Imovision.