O cinema é rico em exemplos que tratam da construção de pontes para religar laços familiares há muito tempo rompidos. Isso vale para as histórias reais ou ficcionais que são contadas como para produções que buscam essa reconexão durante o processo de realização. Esse é o caso de Aldeia Natal, do paranaense Guto Pasko. O que temos aqui é um forte e emocionante relato de um filho que saiu da casa dos pais quando tinha apenas 11 anos de idade. O motivo: ele não queria cumprir a promessa feita por seus genitores de se tornar padre. Natural de Prudentópolis, no interior do Paraná, Guto mudou-se para Curitiba e começou anos depois a trabalhar com audiovisual. Mas aquela herança ucraniana nunca foi abandonada. Não por acaso, ele iniciou uma profunda e detalhada pesquisa cinematográfica que resultou, até o momento, em quatro filmes: Made in Ucrânia: Os Ucranianos no Paraná (2005), Iván: De Volta Para o Passado (2010), Entre Nós, O Estranho (2015) e Aldeia Natal, de 2022. Esse último é, seguramente, o mais íntimo e pessoal de sua trajetória profissional. Três décadas depois de ter ido embora, ele retorna a sua casa paterna para restabelecer laços familiares e se reconciliar com seu João, dona Cecília e os dez irmãos mais novos. Esse reencontro traz lembranças dolorosas. Não teria como ser diferente. Ao mesmo tempo, aquela catarse revela emoções genuínas carregadas de amor, perdão e humanidade. Aldeia Natal amplia o escopo do resgate hereditário que faz. Guto enriquece a busca por reconciliação com seu passado levando o pai e a mãe até o local na Ucrânia onde os antepassados deles viviam antes de imigrarem para o Brasil. Com isso, a construção inicial daquela ponte se transforma em algo bem mais sólido e completo.
ALDEIA NATAL (Brasil 2022). Direção: Guto Pasko. Documentário. Duração: 98 minutos. Distribuição: GP7 Cinema.