Martin Scorsese cresceu no bairro de Little Italy, em Nova York. Ele disse, certa vez, que vislumbrava apenas dois destinos: tornar-se um gangster ou um padre. Felizmente, ele encontrou uma terceira opção e se transformou em um dos maiores cineastas de todos os tempos. Seus filmes nunca negaram sua origem italiana e católica, bem como os mafiosos que moravam perto de sua casa. Quando ele anunciou que iria adaptar o livro A Última Tentação, do grego Nikos Kazantzakis, o Vaticano lhe declarou guerra. O roteiro ficou por conta de Paul Schrader, que já havia escrito para ele os roteiros de Taxi Driver e Touro Indomável. Scorsese conseguiu convencer a Universal, o estúdio, a bancar a produção de apenas seis milhões de dólares, valor muito baixo para os padrões americanos. Em troca, teve liberdade para trabalhar sem interferências. A premissa do livro, e também do filme, é bem simples. Temos aqui uma releitura da vida de Jesus Cristo, com uma pequena diferença: ao invés de três tentações feitas pelo demônio no deserto, o Filho de Deus teria sido tentado uma quarta vez, quando estava pregado na cruz. A Última Tentação de Cristo mostra como Ele viveria caso optasse por se tornar um homem comum, com esposa e filhos. A Igreja protestou. Os padres pediram aos fiéis para boicotaram a obra. Fizeram tudo o que acharam necessário para barrar o filme. Só esqueceram da coisa mais importante: ir ao cinema vê-lo. Se tivessem feito isso, perceberiam se tratar de uma das mais belas provas de amor e respeito de um cineasta para com sua fé e religião. Scorsese cobre seu Cristo, vivido pelo ator Willem Dafoe, de uma humanidade nunca mostrada antes e resgata com propriedade duas importantes personagens: Judas (Harvey Keitel) e Maria Madalena (Barbara Hershey). Além da força narrativa scorseseana, do roteiro preciso e do impecável elenco, ainda temos uma trilha sonora mais do que inspirada composta por Peter Gabriel e o camaleônico David Bowie no papel de Pôncios Pilatos.
A ÚLTIMA TENTAÇÃO DE CRISTO (The Last Temptation of Christ – EUA 1988). Direção: Martin Scorsese. Elenco: Willem Dafoe, Harvey Keitel, Barbara Hershey, Harry Dean Stanton, Verna Bloom, David Bowie, Andre Gregory, Juliette Caton, Roberts Blossom, Irvin Kershner e Barry Miller. Duração: 164 minutos. Distribuição: Universal.
Respostas de 2
Filme de mestre, feito por um Mestre. Tenho dito!
Assisti exatamente porque causou polêmica e acabei adorando a narrativa.
A discussão dele com Paulo e a redenção final me marcaram demais.
É um dos filmes sobre o tema que eu mais gostei. Muito bonito apenas a ignorância e a intolerância é que tentam proibi-lo.