O cineasta indiano Pan Nalin é autodidata em cinema e trabalha com audiovisual há mais de três décadas. Dentre as muitas obras que já realizou, duas ganharam destaque mundo afora: Samsara, de 2001, e A Última Sessão, que ele escreveu e dirigiu 20 anos depois. A ação gira em torno do menino Samay (Bhavin Rabari), de nove anos. Ele vive em um pequeno povoado, perto de uma estação de trem no interior da Índia. Seu pai (Dipen Raval) vende chá à beira dos trilhos. E sua mãe (Richa Meena) cuida da casa e é, segundo seu filho, a melhor cozinheira do mundo. Tudo começa quando a família vai até a cidade mais próxima para ver um filme. Samay se apaixona pela magia do cinema e decide que fará filmes quando crescer. A partir daí, seu envolvimento com a sétima arte cresce mais e mais. Especialmente após ele conhecer Fazal (Bhavesh Shrimali), projecionista do Galaxy, única sala de exibição da região. Por este resumo pode até parecer se tratar de uma versão “made in Bollywood” de Cinema Paradiso. Na verdade, existem elementos similares. No entanto, para ser mais fiel à premissa de Nalin, A Última Sessão estaria mais próximo de uma mistura entre o filme de Tornatore e Os Fabelmans. E convém destacar que supera o filme de Spielberg ao ilustrar a “magia” da persistência retiniana. Além disso tudo, e olha que não é pouco, o roteirista e diretor ainda encontra espaço para tratar de questões como as castas de seu país que, de acordo com o professor da escola, são apenas duas: os que falam e os que não falam inglês. Há também o fator culinário, tão característico do país, que é mostrado com riqueza de detalhes na preparação e degustação dos pratos feitos pela mãe de Samay. Sem esquecer da situação do pai, que foi passado para trás pelos próprios irmãos. Mas o que importa mesmo é o amor e a dedicação do menino que, contra todas as adversidades que surgem em seu caminho, encontra maneiras bastante criativas para expressar sua arte e o faz sempre de maneira coletiva, ou seja, da mesma forma como os filmes são feitos. Por fim, uma importante questão termina por se impor: o destino de muitas salas de cinema em um mundo cada vez mais competitivo e sem apego à memória, à cultura e ao difícil, para não dizer ingrato, trabalho de formação de plateia. Mas há esperança de dias melhores. Como diz Fazal a Samay: “o futuro pertence aos contadores de histórias”. Que assim seja!
A ÚLTIMA SESSÃO (Chhello Show – Índia 2021). Direção: Pan Nalin. Elenco: Bhavin Rabari, Dipen Raval, Bhavesh Shrimali, Richa Meena, Rahul Koli, Vikas Bata, Alpesh Tank e Kishan Parmar. Duração: 112 minutos. Distribuição: Cup Filmes.