A arte é a melhor maneira de se compartilhar sonhos e, dentre todas as formas de arte, o cinema é seguramente a mais popular. Mergulhar no mundo dos sonhos é um tema recorrente na história do cinema e na filmografia de grandes cineastas. Fellini, Bergman, Kurosawa, Glauber, Kubrick e Scorsese já exploraram o tema. Agora, com A Origem, chegou a vez de Christopher Nolan, que, diferente dos sonhos de Bergman e Kurosawa, que lidam basicamente com o medo da morte ou os de Fellini e Glauber que passeiam pelo lírico e pelo surreal, os sonhos de Nolan seguem as regras dos filmes de ação. Cobb, personagem de Leonardo DiCaprio, é um especialista em “extrair” segredos dos sonhos dos outros. O desafio surge quando ele recebe uma proposta irrecusável: ao invés de “extrair”, Cobb deverá “inserir” uma idéia. Daí o título original, Inception (incepção). Após o enorme sucesso comercial e de crítica de Batman – O Cavaleiro das Trevas, Nolan poderia propor o filme que quisesse que a Warner o bancaria sem pensar duas vezes. A Origem consegue navegar no pantanoso terreno do meio-termo entre cinema comercial e filme de autor. Nolan desenvolveu um estilo, uma assinatura. Quem tiver visto seus filmes anteriores e for ver A Origem sem saber de nada, reconhecerá nos primeiros minutos de projeção que se trata de um filme dirigido por Christopher Nolan. O roteiro intrincado, mas nunca confuso, a condução segura dos atores (todo o elenco está perfeito), os efeitos especiais estonteantes e que não abusam do CGI (imagens geradas por computador), aliados a uma trilha sonora mais que envolvente e uma direção milimetricamente precisa, transformam A Origem em um filme obrigatório. Principalmente em um período em que Hollywood parece ter perdido o rumo ao produzir seus filmes de ação, que, com raríssimas exceções, não passam de “muita cobertura para pouco recheio”. A Origem devolve aos filmes de ação a consistência das boas idéias. Alguns poderão questionar o originalidade e até o conservadorismo de Nolan. Não importa. O que vale mesmo é que nesses tempos de “apostas certas” e “cartas marcadas”, tão cheio de tramas vazias, é bom assistir a um filme e não conseguir parar de falar sobre ele.