O cineasta Steven Spielberg era chamado de “Peter Pan” pela crítica. Um dos motivos para o apelido residia no fato de o diretor, até aquele momento, ter realizado somente filmes voltados ao público infanto-juvenil. Spielberg quis provar que era um diretor “maduro”. O resultado é A Cor Púrpura, seu primeiro filme “adulto”. Baseado no livro de mesmo nome, escrito por Alice Walker, o filme conta a história de Celie, vivida por Whoopi Goldberg, em sua estréia no cinema. De forte teor melodramático, a narrativa acompanha a vida dessa mulher durante aproximadamente 20 anos. Escravidão e solidão são dois termos bem presentes na vida dela. O livro é inteiro em forma de cartas, que Celie, de maneira bem rústica, escreve para Deus e para sua irmã Nettie. O roteiro, escrito por Menno Meyjes, mantém essa estrutura epistolar e desenvolve outras situações narradas nas cartas. Com uma direção segura, precisa e inspirada; um elenco surpreendente (além de Whoopi Goldberg, destaque para o desempenho de Oprah Winfrey); uma belíssima trilha sonora composta por Quincy Jones; além de uma deslumbrante fotografia. A Cor Púrpura é um grande espetáculo para os olhos e para a alma. Spielberg disse na época do lançamento que o filme tratava da vida de um ser humano triplamente vítima de preconceito: Celie é negra, mulher e analfabeta. Foi o grande injustiçado da cerimônia do Oscar de 1986. Recebeu nove indicações e não ganhou uma sequer. O tempo se encarregou de corrigir essa falha. Hoje, A Cor Púrpura é muito mais lembrado que o filme vencedor do Oscar daquele ano.