Em pouco mais de 15 anos de carreira, a cineasta ucraniana Larisa Shepitko realizou dois curtas, um telefilme, quatro longas e o segmento de um trabalho coletivo. Sua morte prematura aos 41 anos interrompeu uma das mais brilhantes trajetórias do cinema de seu país e, sem exagero algum, do cinema mundial. A Ascensão, de 1977, foi seu último filme. O roteiro, escrito pela própria diretora junto com Yuri Klepikov, é uma adaptação do livro Sotnikov, de Vasili Bykov e se passa na Bielorrússia, em 1942, durante a Segunda Guerra Mundial. Somos apresentados a Sotnikov (Boris Plotnikov) e Rybak (Vladimir Gostyukhin), ambos guerrilheiros soviéticos. Eles se afastam do grupo para buscar comida e chegam a uma fazenda visitada por nazistas. Eles continuam a procurar por alimentos e acabam capturados. Há em A Ascensão dois momentos distintos enfrentados por Sotnikov e Rybak. Eles primeiro enfrentam a natureza gelada da região e depois enfrentam os inimigos externos e interiores. A jornada desses dois homens mostrada aqui por Shepitko atinge um grau de transcendência raramente visto no cinema. Há também alguns elementos cristãos que assim como o título da obra, reforçam ainda mais essa transcendência. A dinâmica que se estabelece entre os dois soldados me fez lembrar de Molina e Valentin, os presos do filme O Beijo da Mulher-Aranha, de Hector Babenco. Temos em A Ascensão um impactante libelo antibelicista e um sensível drama carregado de humanidade. Em tempo: Larisa Shepitko trabalhava no roteiro e pré-produção de A Despedida, que seria seu filme seguinte. Seu marido, o também cineasta Elem Klomov, diretor do igualmente impactante Vá e Veja, assumiu a produção e a concluiu em homenagem à esposa.
A ASCENSÃO (Voskhozhdenie – União Soviética 1977). Direção: Larisa Shepitko. Elenco: Boris Plotnikov, Vladimir Gostyukhin, Sergey Yakovlev, Lyudmila Polyakova, Viktoriya Goldentul, Anatoliy Solonitsyn e Mariya Vinogradova. Duração: 111 minutos. Distribuição: CPC-UMES Filmes.
