O cineasta inglês David Lean vinha do grande sucesso de público e, principalmente, crítica de seu premiado filme anterior, Lawrence da Arábia. Antes dele, havia realizado outro épico, A Ponte do Rio Kwai. Muitos costumam dizer que depois de um épico, o ideal é partir para um trabalho mais intimista. Não foi bem isso que Lean fez. Ao mesmo tempo, foi algo próximo disso. Doutor Jivago, que ele dirigiu em 1965, é o que poderíamos chamar de um “épico intimista”. O roteiro de Robert Bolt, baseado no romance de Boris Pasternak, conta a história de amor entre o jovem médico, aristocrata e poeta Yuri Jivago (Omar Sharif), que é casado com Tonya (Geraldine Chaplin), e se apaixona pela esposa de um revolucionário, Lara (Julie Christie). A trama tem como pano de fundo a Revolução Russa que teve início em 1917. Aliás, a Revolução ocupa papel predominante durante toda a primeira hora do filme. A partir daí é que o romance de Yuri e Lara toma a frente. Doutor Jivago foi massacrado pela crítica, porém, caiu nas graças do público. Muitos acusaram Lean de ter feito uma obra “fria” demais, alusão ao inverno russo que domina boa parte da ação. Outros atacaram o ator Omar Sharif com a alegação de que sua interpretação era vazia e inexpressiva. Nada como o tempo para colocar as coisas nos seus devidos lugares. Tecnicamente irretocável, Doutor Jivago é lembrado principalmente por sua bela fotografia, a cargo de Freddie Young. E também por sua trilha sonora, composta por Maurice Jarre. O tema de Lara é uma dos mais populares temas de toda a história do Cinema. Mas isso não é tudo. Sharif, que havia trabalhado com Lean em seu filme anterior, carrega muitas emoções contidas. Talvez os críticos da época não tenham percebido isso. Basta ver o terço final da história para compreender melhor a personagem. E eu não conheço outro filme que tenha mostrado de maneira tão contundente e precisa as mudanças provocadas na Rússia com o advento do regime comunista. Vencedor de cinco Oscar (roteiro adaptado, fotografia, trilha sonora, cenografia e figurinos), Doutor Jivago é um espetáculo cinematográfico que marcou gerações.
DOUTOR JIVAGO (Doctor Zhivago – EUA/Itália 1965). Direção: David Lean. Elenco: Omar Sharif, Julie Christie, Geraldine Chaplin, Tom Courtenay, Alec Guinness, Siobhan McKenna, Ralph Richardson, Rod Steiger, Rita Tushingham, Klaus Kinski, Adrienne Corri, Geoffrey Keen, Jeffrey Rockland, Jack MacGowran e Tarek Sharif. Duração: 201 minutos. Distribuição: Warner.
Uma resposta
Certamente o olhar crítico mudou quando se trata deste filme. E Omar Sharif igualmente é visto com uma atuação impecável, eu diria. Sim, difícil lembrar – como escreveu o Marden – de um exemplo melhor para dar conta da Revolução Russa.