Os mineiros Affonso Uchoa e João Dumans já haviam trabalhado juntos em 2014 no longa A Vizinhança do Tigre, escrito por Dumans e dirigido por Uchoa. Três anos depois a dupla une forças novamente, desta vez dividindo o roteiro e a direção do excepcional Arábia. Temos aqui uma história que se desenrola na região industrial de Ouro Preto, interior de Minas Gerais. André (Murilo Caliari) encontra por acaso o diário de Cristiano (Aristides de Sousa), um operário metalúrgico que sofreu um acidente. A partir da leitura das memórias relatadas naquele caderno ele mergulha na rotina do autor e descobre as condições de vida dos trabalhadores marginalizados do local. Em paralelo a isso vemos também as transformações sociais e políticas vividas no Brasil ao longo de dez anos. A estrutura narrativa adotada por Uchoa e Dumans nos leva por caminhos insuspeitos e fascinantes ao revelar boas surpresas em uma obra bem simples em sua aparência, no entanto, extremamente profunda em sua abordagem. Mesmo que em alguns momentos o filme dê a impressão de estar se distanciando do tema principal, na verdade a dupla nunca perde o foco do que realmente importa. Por fim, Arábia comprova mais uma vez a excelência dos cineastas mineiros. Não faltam boas ideias e as situações apresentadas provocam diferentes interpretações e levam à reflexão por conta da complexidade de suas personagens. E isso não é pouco.
ARÁBIA (Brasil 2017). Direção: Affonso Uchoa e João Dumans. Elenco: Aristides de Sousa, Murilo Caliari, Renata Cabral, Renan Rovida, Glaucia Vandeveld, Renato Novaes, Wederson Neguinho, Adriano Araújo, Sinara Teles e Carlos Francisco. Duração: 96 minutos. Distribuição: Embaúba Play.







