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CINEMARDEN VAI AO OSCAR

AINDA ESTOU AQUI

Em agosto de 2015, o escritor Marcelo Rubens Paiva publicou Ainda Estou Aqui, emocionante relato autobiográfico de sua infância, adolescência e vida adulta. O ponto mais forte é a história de seu pai, o engenheiro e ex-deputado federal Rubens Paiva, preso, torturado e assassinado pela ditadura militar em janeiro de 1971. Mais forte ainda é a postura de sua mãe, Eunice Paiva, a real protagonista dessa família e, por que não, do país nas décadas seguintes aos tristes eventos daquele início de ano. O diretor Walter Salles, que havia dirigido seu último longa de ficção em 2012, comprou os direitos do livro e decidiu adaptá-lo para cinema. Salles conhecia bem aquela família. Era amigo das filhas mais velhas do casal e costumava frequentar o sobrado onde moravam no bairro do Leblon, no Rio. A missão de roteirizar a obra de Marcelo ficou a cargo dos roteiristas curitibanos Murilo Hauser e Heitor Lorega. Quem tiver lido o livro e for ver o filme perceberá o primoroso trabalho de adaptação, que foi premiado com o Leão de Ouro de melhor roteiro no Festival de Veneza, em agosto de 2024. Salles é um cineasta adepto da narrativa clássica e dotado de forte caráter humanista em suas obras. O cinema para ele é mais que um simples veículo para se contar histórias. Ele vê a sétima arte como um importante instrumento de preservação da memória de uma nação e propício para se debater questões políticas, filosóficas, humanas e familiares. Dito isso, convém destacar que há em Ainda Estou Aqui momentos bem distintos que resultam das escolhas feitas pelo diretor para pontuar sua narrativa. A primeira parte é luminosa e feliz ao mostrar a dinâmica de Rubens (Selton Mello), Eunice (Fernanda Torres) e dos cinco filhos do casal (quatro meninas e um menino). A casa está sempre cheia de gente e a alegre rotina de ir à praia e receber amigas e amigos em animadas conversas é enfatizada nessa primeira parte. E isso faz um perfeito contraponto ao que vemos depois. Aquele sobrado, com suas portas e janelas abertas, sofre uma mudança radical. Fernanda Torres interpreta Eunice com altivez, delicadeza e determinação. Trata-se de um papel complexo e trágico que a atriz dá vida na medida certa. Da mesma forma, Selton Mello aparece cheio de amor, ternura e alegria, o que faz com que sua figura seja continuamente lembrada. E o que dizer da pequena participação de Fernanda Montenegro? São pouquíssimos minutos que reforçam o que já sabemos: ela é FERNANDA MONTENEGRO. Simples assim. Ainda Estou Aqui é nosso representante na disputa por uma indicação ao Oscar 2025 na categoria de melhor filme internacional. O filme resgata um dos momentos mais nefastos da história do Brasil e destaca a força de uma mulher exemplar que restaurou, mais uma vez, minha crença no ser humano. Obrigado, Eunice!  

AINDA ESTOU AQUI (Brasil 2024). Direção: Walter Salles. Elenco: Fernanda Torres, Selton Mello, Valentina Herszage, Maeve Jinkings, Dan Stulbach, Humberto Carrão, Marjorie Estiano, Luiz Bertazzo, Lourinelson Vladmir, Otávio Linhares, Antonio Saboia, Guilherme Silveira e Fernanda Montenegro. Duração: 135 minutos. Distribuição: Sony.

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