Não foi por falta de aviso. O cartaz do filme já anunciava: “Tenha medo. Tenho muito medo”. Quando foi revelado que o cineasta canadense David Cronenberg iria dirigir a refilmagem de A Mosca da Cabeça Branca, de 1958, havia uma certeza de que ele era o diretor certo para aquela façanha. Obcecado pelo corpo humano e suas transformações, A Mosca era um projeto perfeito para ele. Seth (Jeff Goldblum) é um metódico cientista que faz experiências com teletransporte. Veronica (Geena Davis) vive uma repórter que acompanha as pesquisas. Durante um teste, o DNA de Seth se mistura com o de um outro ser vivo que se fazia presente dentro da máquina, uma mosca. Cronenberg narra de maneira originalíssima a ascenção e queda de um homem. Em um primeiro momento, após a fusão dos DNAs, Seth se sente um homem mais forte e eufórico, porém, tempos depois, o lado inseto começa a sobressair. A narrativa do diretor permite diferentes interpretações. Uma das possíveis análises trata de uma analogia ao vírus da AIDS. Cronenberg é um diretor econômico e objetivo. Ele não costuma perder tempo com seqüências desnecessárias. Tudo que ele coloca em cena tem uma razão de ser. Há momentos nojentos, é verdade, mas nada fora de contexto ou que desvie a atenção da trama, muito pelo contrário. Preste atenção no trabalho de maquiagem desenvolvido por Chris Walas e na ponta de Cronenberg no papel do ginecologista.
A MOSCA (The Fly – EUA 1986). Direção: David Cronenberg. Elenco: Jeff Goldblum, Geena Davis, John Getz, Joy Boushel, Leslie Carlson, George Chuvalo, Michael Copeman, David Cronenberg, Carol Lazare e Shawn Hewitt. Duração: 96 minutos. Distribuição: Fox.
Uma resposta
Uma obra na medida certa. Não engana, não surpreende, nem encanta. Mas satisfaz dentro do que se prentende cumprir. Uma nota pessoal: assiste no cinema, numa sessão especial de pré-lançamento, num sábado, às 9h da manhã. Via rádio Transamérica. Bem coisa dos anos 80.