Howard Hawks era um diretor culto e muito bem relacionado com os grandes escritores americanos de sua época. Prova disso é que seu filme Uma Aventura na Martinica é baseado em um livro de Ernest Hemingway com roteiro escrito por William Faulkner. Diz a lenda que Hawks estava conversando com Hemingway e teria dito que o escritor era tão bom que ele poderia fazer um bom filme de seu pior livro. Assim teria nascido o projeto, que durante muito tempo ficou marcado como uma cópia de Casablanca. Uma grande injustiça, por sinal. É verdade que existem algumas semelhanças: a história se passa durante a Segunda Guerra Mundial; há um grupo de Resistência ao Nazismo; quase tudo acontece em um café noturno onde as pessoas bebem e ouvem música e, claro, temos Humphrey Bogart. Fora isso, é tudo diferente. Prefiro ver Uma Aventura na Martinica como uma grande brincadeira-homenagem ao filme de Michael Curtiz. Na trama, Steve (Bogart) é dono de um barco e é contratado para resgatar um casal da resistência. No meio disso tudo, ele conhece Marie, papel de estreia de Lauren Bacall, então com 19 anos. E isso faz toda a diferença. A química entre os dois é instantânea e se estendeu para a vida real. A direção de Hawks é ágil e precisa. Além disso, o roteiro tem diálogos primorosos e o elenco inteiro está bem à vontade em cena. Preste atenção na primeira aparição de Marie, quando ela pergunta se alguém tem fósforo. Preste igual atenção quando ela pergunta a Steve se ele sabe assobiar e ainda a maneira como ela mexe com a cabeça dos homens ao andar. Uma Aventura na Martinica é divertido e espirituoso. Inesquecível. Nesse ponto, ele é realmente igual ao Casablanca.