Selton Mello é um dos atores mais versáteis e populares do novo cinema brasileiro. Feliz Natal marca a sua estréia como diretor. Com roteiro escrito por ele, em parceria com Marcelo Vindicatto, acompanhamos aqui a história de Caio (Leonardo Medeiros), um homem de 40 e poucos anos que é dono de um ferro velho. Solitário e amargurado, ele é marcado por um trauma do passado. Na semana do Natal, Caio retorna para a casa dos pais. O cenário não é dos mais confortantes e o clima nada tem de harmonioso. Velhas feridas são abertas e novos problemas surgem a partir daí. O tema é pesado e o diretor-roteirista não mascara isso em momento algum. Selton Mello poderia ter escolhido o caminho mais fácil da comédia, afinal, uma noite de Natal em família sempre rende bons momentos de humor. A escolha por um drama existencial foi consciente. Até por conta de um lado comum nessas comemorações, porém, pouco explorado. Natal nem sempre é sinônimo de alegria. Muitas vezes, é um momento de grandes cobranças e constrangimentos. O diretor estreante não quis reinventar a roda. Inspirado pelos cinemas europeu e argentino, ele demonstra segurança na condução de uma história carregada de personagens complexas. Não é um filme fácil. O drama vivido por Caio é denso e profundo. O elenco, com destaque especial para Leonardo Medeiros, está primoroso e surpreendente. Enfim, uma trama que subverte expectativas e mostra pessoas de verdade tentando encontrar um sentido para suas vidas.