É possível gostar de um filme e odiar seu protagonista? Na maioria dos casos é preciso que haja uma empatia entre o público e a personagem principal. Essa regra costuma valer para quase todas as obras de arte que utilizam uma estrutura narrativa. Stanley Kubrick, diretor americano radicado na Inglaterra, subverte essa regra em Barry Lyndon, que ele dirigiu em 1975. Baseado no livro de William Makapeace Thackeray, o roteiro, escrito pelo próprio Kubrick, acompanha a trajetória de um irlandês pobre, Redmond Barry (Ryan O’Neal), que sonha fazer parte da nobreza inglesa. Para alcançar seu objetivo, ele não mede esforços e faz o que é necessário para atingi-lo. Barry Lyndon foi o primeiro filme de Kubrick após o sucesso de Laranja Mecânica. Ele buscou inspiração nos quadros dos pintores ingleses do século XVIII, época em que se passa a história. E foi mais longe ainda. Perfeccionista ao extremo, Kubrick queria que seu filme fosse feito da maneira mais realista possível, como se existisse uma câmara naquele período. Para isso, desenvolveu a partir de lentes usadas pela NASA, um equipamento especial de altíssima sensibilidade e filmou todo o filme com luz natural nas cenas externas e luz de velas nas cenas internas. O efeito é simplesmente assombroso e de uma beleza estonteante. O filme recebeu sete indicações ao Oscar. Ganhou quatro: fotografia, direção de arte, figurino e trilha sonora adaptada. Curiosamente perdeu nas três categorias em que Kubrick concorria pessoalmente, ou seja, filme, direção e roteiro adaptado. Entre os 12 filmes dirigidos por Stanley Kubrick, Barry Lyndon não é o querido nem o mais lembrado. No entanto, talvez seja o que melhor exemplifica o estilo único desse genial diretor.