Histórias que abordam a volta para casa costumam criar uma rápida identificação com o leitor ou espectador. Em menor ou maior grau, em algum ponto em nossas vidas, nos confrontamos ou nos confrontaremos com situação semelhante. Seja ao retornarmos à casa dos pais ou à cidade onde crescemos. As lembranças de um passado, não importa se alegre ou triste, aparecerão naturalmente. É assim que começa A Árvore dos Frutos Selvagens, do cineasta turco Nuri Bilge Ceylan. O roteiro, escrito por ele ao lada da esposa Ebru Ceylan e do sobrinho Akin Aksu, se inspira na própria vida desse último e a relação dele com o pai. Tudo começa com Sinan (Dogu Demirkol) chegando em Çanakkale, não por acaso a cidade natal do diretor. Ele acabou de se formar e sonha se tornar escritor. Para tanto, planeja juntar dinheiro para publicar seu primeiro livro. O problema é a relação que tem com o pai, Idris (Murat Cemcir) e as muitas dívidas que este contraiu. A Árvore dos Frutos Selvagens, que no caso é uma pereira de tronco retorcido e forte, funciona aqui como uma metáfora perfeita para a jornada de Sinan. A longa duração, algo bastante comum na filmografia de Ceylan, não cansa em momento algum (não me cansou, juro). Os diálogos são muito bem construídos e fluem de maneira natural, orgânica. O olhar do cineasta capta passagens inusitadas que são conduzidas por personagens palpáveis de tão reais que são. Sem esquecer dos temas recorrentes na obra do diretor como citações literárias ou questões de cunho religioso, familiar e cultural.
A ÁRVORE DOS FRUTOS SELVAGENS (Ahlat Agaci – Turquia 2018). Direção: Nuri Bilge Ceylan. Elenco: Dogu Demirkol, Murat Cemcir, Bennu Yildirimlar, Hazar Ergüçlü, Serkan Keskin, Temer Levent, Öner Erkan e Ahmet Rifat Sungar. Duração: 188 minutos. Distribuição: Fênix Filmes.
